BENJAMIN ABRAHÃO – Diretor de Fotografia

Benjamin Abrahão Botto nasceu em Zahlé, Líbano, em 1890.

Fotógrafo sírio-libanês-brasileiro, responsável pelo registro iconográfico e de seu líder, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, chega ao Brasil em 1915, fugindo da 1a Guerra Mundial. Passa a comercializar tecidos e miudezas em lombos de burros. Como secretário de Padre Cícero, conhece Lampião em 1926. Após a morte do padre em 1934, recebe autorização para acompanhar e filmar o bando, na caatinga, com equipamentos emprestados por Ademar Bezerra de Albuquerque, da Abafilm. Morre assassinado com 42 facadas em 10 de maio de 1938, em Serra Talhada, PE, aos 48 anos de idade. Todo o material filmado foi apreendido pelo Governo Vargas e depositado no Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), sendo redescoberto somente nos anos 1950, com boa parte já deteriorada. Sua vida foi levada às telas em 1997 no filme Baile Perfumado, de Paulo Caldas e Lírio Ferreira, com Duda Mamberti no papel de Benjamin.

Filmografia: 1936- Lampião, o Rei do Cangaço.

NOTA: INFORMAÇÕES ACIMA EXTRAÍDAS DO LIVRO  – (Dicionário de fotógrafos do cinema Brasileiro de Antônio Leão da Silva Neto – Coleção Aplausos Especial – Editora Imprensa Oficial).


Lampião, o Rei do Cangaço (Benjamin Abrahão, 1936-1937)


Imagens realizadas por Benjamin Abrahão entre 1936 e 1937, com o apoio de Adhemar Bezerra de Albuquerque. Editado inicialmente em 1937, o filme gerou grande expectativa nacional e internacional, mas foi apreendido pelo órgão de censura do governo de Getúlio Vargas e ficou esquecido nos porões da ditadura.

Em 1955, parte dele foi recuperada por Alexandre Wulfes e reeditada por Al Ghiu, que incluiu uma narração e lançou o filme “Lampeão (o rei do cangaço)”, com dez minutos de duração, exibido nos cinemas com grande sucesso. Em 2007, a Cinemateca Brasileira, com patrocínio da Petrobras, restaurou fotoquimicamente a versão reeditada por Al Ghiu.

Esta edição, feita especialmente para o livro Iconografia do Cangaço, da editora Terceiro Nome, é uma remontagem de Ricardo Albuquerque realizada a partir do material restaurado em 2007 pela Cinemateca Brasileira, acrescido de quatro minutos de imagens inéditas.


 

Benjamin Abrahão Botto (Zahlé, Líbano, c. 1890Serra Talhada, 10 de maio de 1938) foi um fotógrafosírio-libanês-brasileiro, responsável pelo registro iconográfico do cangaço e de seu líder, Virgulino Ferreira da Silva – o Lampião. Abrahão morreu assassinado durante o Estado Novo.

Biografia

Embora publicado em jornais, o pouco que se sabe da vida de Benjamim Abraão vem de fontes mescladas entre a mídia historiográfica e os meios de subsistência do ambiente nordestino, fatos que não se encaixam com a realidade profissional de um secretário, bem como de expert operador de equipamentos de filmagem, muito avançados para a época.

A fim de fugir à convocação obrigatória pelo Império Otomano de lutar durante a Primeira Guerra Mundial, migrou para o Brasil em 1915.[1]

Foi comerciante (mascate) de tecidos e miudezas, além de produtos típicos nordestinos, primeiro em Recife, depois para Juazeiro do Norte, com dois burros (Assanhado e Buril) e um cavalo (de nome Sultão), atraído pela grande frequência de romeiros[2]

Abrahão foi secretário do Padre Cícero, e conheceu o cangaceiro Lampião em 1926, quando este foi até Juazeiro do Norte a fim de receber a bênção do célebre vigário e a patente de capitão, para auxiliar na perseguição da Coluna Prestes,[3] uma vez que não se encontrou com Lampião em 1924, quando de outra de sua visita à cidade, apesar de lá se encontrar.[4] A nomeação fora feita, a mando do padre, pelo funcionário federal Pedro de Albuquerque Uchoa, segundo uma autorização dada ao deputado Floro Bartolomeu pelo próprio presidente Artur Bernardes – ordem que em nada adiantou, pois não foi respeitada nos demais estados, resultando que Lampião e seu bando jamais efetuaram perseguição a Prestes.[5] Em 1929 Abrahão fotografou o líder cangaceiro ao lado do padre[6]

Após a morte de Padre Cícero, Abrahão solicitou e obteve do “Rei do Cangaço” a permissão para acompanhar o bando na caatinga e realizar as imagens que o imortalizaram. Para tanto teve a parceria do cearense Ademar Bezerra de Albuquerque, dono da ABAFILM que, além de emprestar os equipamentos, ensinou o fotógrafo seu uso. Por ao menos duas ocasiões esteve junto ao bando de Lampião, realizando seu mister.[3]

Abrahão teve seus trabalhos apreendidos pela ditadura de Getúlio Vargas, que nele viu um antagonista do regime. Guardada pela família de libaneses Elihimas, em Pernambuco, a película foi analisada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), um órgão de censura.

Morreu esfaqueado (quarenta e duas facadas[4] ), sem que o crime jamais viesse a ser esclarecido, tanto na autoria como na motivação, donde se especula ter sido mais uma das mortes arquitetadas pelo sistema,[3] como outras ocorridas em situação análoga, a exemplo de Horácio de Matos (embora exista a versão de que o fotógrafo sírio-libanês teria sido alvo de roubo, por algum ladrão, apesar de com este nada de valor haver[2] ).

Exclusividade

O próprio Lampião assegurou o testemunho, em um bilhete, de que todas as suas imagens eram produto do trabalho de Abrahão.[3]

Nota: foi mantida a grafia utilizada, considerando-se o que Lampião era semi-alfabetizado, tal como se acha transcrita.
Cquote1.svg Illmo Sr. Bejamim Abrahão
Saudações
Venho lhi afirmar que foi a primeira peçoa que conceguiu filmar eu com todos os meus peçoal cangaceiros, filmando assim todos us muvimento da noça vida nas catingas dus sertões nordestinos.
Outra peçoa não conciguiu nem conciguirá nem mesmo eu consintirei mais.
Sem mais do amigo
Capm Virgulino Ferreira da Silva
Vulgo Capm Lampião
Cquote2.svg

— Lampíão, a Benjamin Abrahão

 

Filmagens

Para a realização do filme Abrahão contou com verdadeiro trabalho de aproximação junto ao bando, que fugia da perseguição cada vez mais feroz do governo. O encontro veio finalmente a ocorrer em um lugar chamado Bom Nome, onde o cangaceiro, desconfiado, primeiro realizou ele mesmo a filmagem do ex-mascate (em trecho que se perdeu) e só então consentiu fosse filmado. Abrahão retorna a Fortaleza, onde este primeiro sucesso permite-lhe obter mais rolos de filmes, e voltar para registrar o cangaceiro e seu bando, sendo que o resultado dessa segunda incursão também se perdeu. Abrahão passou a ser considerado suspeito, pois além das filmagens, enviava matérias aos jornais, relatando suas aventuras – o seu conhecimento do paradeiro do bando era indício por demais forte de seu envolvimento com este.[2]

Abrahão, em foto batida pelo cangaceiro Juriti, aparece cumprimentando Lampião.

Abandono e resgate

Os trabalhos de Abrahão Botto permaneceram esquecidos até serem redescobertos nos anos 50, quando a Fundação Getúlio Vargas incorporou o acervo do DIP.[3]

Em notícia do Correio do Ceará, de 7 de abril de 1937, transcrevia a ordem emanada de Lourival Fontes, diretor do DIP, que por telegrama determinava a apreensão do filme Lampião, que se exibia em Fortaleza, com o seguinte teor:[4]

Secretário Segurança Publica Estado do Ceará Fortaleza. Tendo chegado ao conhecimento do Departamento Nacional de Propaganda, estar sendo annunciado ou exhibido na capital ou cidades desse Estado, um filme sobre Lampeão, de propriedade de “Aba Filme”, com sede á rua Major Facundo, solicito vos digneis providenciar no sentido de ser apprehendido immediatamente o referido filme, com todas suas copias, e respectivo negativo, e remettel-os a esta repartição, devendo ser evitado seja o mesmo negociado com terceiros e enviado para fora do paiz. Attenciosos cumprimentos. Lourival Fontes, director do Departamento Nacional de Propaganda do Ministério da Justiça.[4]

Em 1996 a atribulada vida do fotógrafo foi o tema do filme Baile Perfumado, dirigido por Paulo Caldas e Lírio Ferreira, sobre roteiro de ambos e Hilton Lacerda.[7]

No ano 2000 foi objeto de várias exposições, em Paris, São Paulo e Rio de Janeiro.[6]

 

Crítica histórica

A historiadora francesa Élise Jasmin (n. 1966), que realizou uma mostra em França das imagens do Cangaço por Abrahão Botto, fruto de seus trabalhos de pesquisa, declarou em entrevista que “Estas imagens dos bandidos no auge de sua glória e poder, ao lado das fotos com o jogo cênico de suas mortes, fazem parte desta espetacularização da violência que encontramos nas sociedades modernas (…)” – e aludindo que havia por trás do trabalho de Abrahão uma intenção por parte do cangaceiro em “…desafiar seus adversários, impor seu poder e mostrar que seu sistema de valores, a vida que levavam, tinha um sentido para eles.” – fato refutado por Urariano Mota, para quem “As lentes de Benjamin Abrahão, que os filmou, é que fazem o espetacular“.[8]

A constatação original da pesquisadora francesa, entretanto, persiste, sobre o uso da imagem feita por Lampião: “foi o primeiro cangaceiro a cuidar de sua imagem, e aí reside sua grande originalidade. Teatralizou sua vida, utilizou modos de comunicação da modernidade que não faziam parte de sua cultura original, principalmente a imprensa e a fotografia[9]

 

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